A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é reconhecida por sua evolução histórica em diferentes “ondas”, cada uma delas expandindo os pressupostos teóricos e as técnicas aplicadas em psicoterapia. Enquanto a primeira onda (comportamental) foca na análise de contingências e na modificação de comportamentos observáveis, a segunda onda (cognitiva) introduz a relevância dos pensamentos e crenças como mediadores das emoções e comportamentos. Posteriormente, a terceira onda integra elementos de aceitação, mindfulness e valores pessoais, propondo uma abordagem mais contextual e flexível.
Para ilustrar como esses modelos teóricos se traduzem em prática clínica, este texto apresenta estudos de caso que exemplificam a aplicação das ondas da TCC em diferentes contextos. Cada situação demonstra não apenas a lógica de intervenção, mas também a forma como os terapeutas podem adaptar e integrar técnicas de acordo com as necessidades específicas de cada paciente. Se você deseja aprofundar ainda mais seus conhecimentos em Terapias de Terceira Onda, Neuropsicologia e Avaliação Neuropsicológica, convidamos você a visitar o nosso blog e a conhecer a Formação Permanente da IC&C (Intervenções Cognitivas e Comportamentais), onde teoria e prática se unem de forma estruturada.
A primeira onda é marcada pelo Behaviorismo, colocando ênfase na aprendizagem por condicionamento. Técnicas clássicas como dessensibilização sistemática, reforço positivo/negativo e exposição gradual fundamentam essa abordagem. O principal objetivo é alterar comportamentos-problema por meio de mudanças nas contingências de reforço e punição.
A segunda onda surge com a introdução de processos cognitivos na equação comportamental. Sob influência de autores como Aaron Beck e Albert Ellis, os terapeutas passam a buscar a reestruturação de pensamentos automáticos e crenças centrais. O foco é ensinar o paciente a identificar distorções cognitivas, desenvolver autorreflexão e ajustar interpretações da realidade, resultando em melhora emocional e comportamental.
A terceira onda expande os horizontes da TCC ao acolher práticas de aceitação, mindfulness e trabalho com valores pessoais. Com isso, introduzem-se abordagens como a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), a Terapia Comportamental Dialética (DBT) e a Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT). A ênfase deixa de ser “mudar o conteúdo dos pensamentos” para mudar o relacionamento que o paciente tem com seus pensamentos e emoções, cultivando uma atitude compassiva e flexível.
João*, 26 anos, buscou psicoterapia devido a um medo intenso de falar em público e de ser avaliado negativamente. Ele evitava situações como apresentar trabalhos na faculdade, confraternizações do trabalho ou até mesmo convidar amigos para sair. Essa esquiva constante trazia prejuízo em sua vida acadêmica e afetiva, gerando frustração e baixa autoestima.
Seguindo a abordagem da primeira onda, o terapeuta inicia com uma análise funcional:
Com base nisso, o plano de tratamento envolveu:
Ao longo de 10 sessões, João passou a tolerar melhor o desconforto de falar em público. Conseguiu apresentar um seminário na faculdade e relatou menos medo de ser criticado. A adesão ao protocolo de exposição gradual foi crucial para o sucesso. Embora a parte comportamental tenha sido efetiva, o terapeuta notou que João tinha pensamentos automáticos de autodepreciação (“Eu sou incompetente!”), indicando que a aplicação de técnicas cognitivas (segunda onda) poderia complementar a abordagem. Isso mostra como mesmo em um caso orientado pelo Behaviorismo, a integração com outras ondas pode fortalecer o progresso.
Marina*, 34 anos, apresentava quadro depressivo com episódios de choro frequente, desânimo para realizar tarefas cotidianas e sentimento constante de culpa. Ela acreditava que, por não ter um emprego “à altura de suas expectativas”, era um fracasso. Tinha pensamentos automáticos do tipo “Nada do que faço é bom o suficiente” e frequentemente se comparava de forma negativa com amigos.
Numa abordagem de segunda onda, o terapeuta investiu em:
Após cerca de 16 sessões, Marina relatou melhora significativa no humor, aumentou seu engajamento em atividades como aula de dança e passou a considerar novas possibilidades profissionais sem tanto medo de fracasso. A reestruturação cognitiva ajudou-a a perceber que seus pensamentos negativos nem sempre eram fatos, mas interpretações distorcidas. Contudo, em alguns momentos, Marina persistia na ruminação, sugerindo que práticas de mindfulness e aceitação (terceira onda) poderiam auxiliá-la a não se prender tanto aos pensamentos depressivos, apontando para a possibilidade de abordagem integrativa.
Carla*, 38 anos, procurou terapia por sentir-se constantemente apreensiva. Relatava dificuldade em desligar sua mente, sempre preocupada com possíveis problemas financeiros, de saúde e familiares. Em tentativas anteriores de terapia, trabalhou reestruturação cognitiva, mas ainda assim se via presa em ciclos de ruminação. Ela se descrevia como “muito exigente consigo mesma” e sofria com insônia por conta dos pensamentos noturnos.
Inspirando-se na terceira onda, o terapeuta optou por:
Em cerca de 12 sessões, Carla conseguiu reduzir a frequência das ruminaçõesTh, relatou maior flexibilidade diante das preocupações e
notou melhora significativa na qualidade do sono. Embora ainda experimentasse ansiedade, passou a encará-la com menos rejeição e autocrítica, adotando uma postura mais compassiva e comprometida com atividades que fazem sentido para ela. A experiência demonstra a força das técnicas de aceitação e mindfulness, que, aliadas a conceitos de TCC clássica, podem promover mudanças sustentadas no estilo de enfrentamento.
Rogério*, 42 anos, foi diagnosticado com transtorno misto de ansiedade e depressão, caracterizado por episódios de intensa preocupação, sentimentos depressivos e alterações de humor frequentes. Ele apontava que, em certos dias, sentia aversão a tudo (evitando atividades) e, em outros, tinha preocupações ininterruptas com seu emprego, finanças e relacionamentos.
O terapeuta optou por uma estratégia híbrida, usando elementos das três ondas:
Após 20 sessões de terapia integrativa, Rogério apresentou redução significativa da sintomatologia mista, relatou menos medo de encarar responsabilidades e maior grau de satisfação nas relações familiares. A combinação de técnicas comportamentais, cognitivas e de aceitação se mostrou efetiva para um quadro polimórfico, em que ora predominavam sintomas ansiosos, ora sintomas depressivos. Esse caso reforça a tese de que não há necessariamente contradição entre as ondas: elas podem se complementar quando bem planejadas e aplicadas.
A “integração” das ondas exige que o profissional tenha um conhecimento profundo de cada abordagem — do Behaviorismo e da Cognitiva às Terapias de Terceira Onda —, assim como vivência prática e supervisão especializada para evitar uso indiscriminado de técnicas.
É crucial avaliar periodicamente o progresso do paciente, seja por escalas padronizadas ou feedback qualitativo, ajustando o plano terapêutico quando se percebe pouca evolução ou surgimento de novas necessidades.
Ao empregar técnicas de mindfulness ou ao abordar valores pessoais, por exemplo, é preciso respeitar crenças, tradições e contextos do paciente, evitando imposições ou apropriações indevidas de práticas culturais. No uso de técnicas comportamentais ou cognitivas, a sensibilidade cultural e linguística também se faz fundamental.
A aplicação prática das ondas da TCC em estudos de caso demonstra a riqueza e a versatilidade da abordagem. Quer se trate de uma fobia social onde prevalece o manejo comportamental, uma depressão centrada em distorções cognitivas ou um transtorno de ansiedade generalizada com ruminação intensa, as diferentes ondas provêm recursos específicos que podem ser aplicados isoladamente ou em combinação.
Cada caso apresentado ilustra nuances do tratamento:
Porém, a realidade clínica é dinâmica. O terapeuta deve manter a avaliação contínua, a supervisão regular e a formação permanente para refinar suas escolhas técnicas e oferecer um tratamento pautado em evidências e no respeito ao contexto do paciente.
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