A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é amplamente conhecida por sua base empírica e pela eficácia no tratamento de diversos transtornos mentais. Entretanto, o que se chama de “TCC” engloba, na verdade, diferentes fases de evolução teórica e prática, denominadas “ondas”. Da primeira onda, fortemente ligada ao Behaviorismo, à terceira onda, que incorpora aceitação e mindfulness, cada etapa trouxe novos conceitos e estratégias clínicas. Porém, uma pergunta essencial é: como essas três ondas podem ser aplicadas em diferentes faixas etárias? Crianças, adolescentes, adultos e idosos têm demandas e contextos singulares, exigindo adaptações e escolhas terapêuticas pertinentes.
Neste texto, abordaremos as três ondas da TCC e discutiremos como seus princípios podem ser aplicados a diferentes grupos etários, trazendo exemplos de práticas e reflexões sobre os desafios clínicos. Se você deseja aprofundar ainda mais seus conhecimentos em Terapias de Terceira Onda, Neuropsicologia ou Avaliação Neuropsicológica, convidamos a visitar o nosso blog e a conhecer nossa Formação Permanente, onde teoria e prática se unem para promover uma atuação clínica fundamentada.
A primeira onda da TCC está ligada à Psicologia Comportamental, baseando-se no Behaviorismo. O terapeuta prioriza a análise de contingências, ou seja, como os comportamentos são influenciados por estímulos e reforços (positivos ou negativos). Técnicas clássicas incluem exposição gradual, dessensibilização sistemática, reforço e modelagem. A concepção é de que, ao modificar os comportamentos desadaptativos, temos melhora significativa do quadro clínico.
A segunda onda surge ao integrar a perspectiva cognitiva ao arcabouço comportamental. Autores como Aaron Beck e Albert Ellis introduziram a ideia de que os pensamentos automáticos e as crenças centrais influenciam as emoções e comportamentos. Técnicas de reestruturação cognitiva, psicoeducação e autorregistros tornam-se centrais. O foco é ajudar o paciente a identificar e modificar pensamentos distorcidos, promovendo mudanças no humor e nas atitudes.
A terceira onda introduz elementos de aceitação, mindfulness e flexibilidade psicológica, presentes em abordagens como Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), Mindfulness-Based Cognitive Therapy (MBCT) e Terapia Comportamental Dialética (DBT). Em vez de tentar controlar ou suprimir pensamentos e emoções indesejados, estimula-se uma postura de observação e acolhimento, ao mesmo tempo em que o indivíduo se engaja em ações coerentes com seus valores pessoais. Trata-se de uma visão mais contextual e abrangente do comportamento humano.
Crianças têm menor capacidade de abstração e reflexão sobre seus próprios pensamentos. Dessa forma, a primeira onda (behaviorismo) é bastante útil. Por exemplo:
Além disso, incorporar a ludicidade — jogos, desenhos, fantoches — facilita a aplicação de estratégias de TCC com crianças, tornando a terapia mais envolvente e compreensível para elas.
Mesmo na segunda onda, conceitos cognitivos podem ser adaptados de forma simples e visual. Na psicoeducação, a criança aprende sobre a “detectação de pensamentos bobos” e como trocá-los por pensamentos mais adaptativos. Pode-se usar cartazes ou desenhos para ilustrar o “pensamento negativo” vs. “pensamento útil”.
Além disso, trabalhar funções executivas (planejamento, organização, autorregulação) é crucial. Jogos e atividades desafiadoras incentivam o desenvolvimento dessas habilidades, auxiliando crianças com TDAH, por exemplo.
Alguns programas já adaptaram mindfulness e aceitação para o público infantil. Usam-se exercícios curtos de respiração, brincadeiras para prestar atenção ao corpo, historinhas sobre lidar com emoções sem fugir delas. Assim, a criança é encorajada a perceber ansiedade ou frustração sem se desesperar, além de fortalecer valores como “ajudar o outro”, “ser corajoso” em pequenas decisões diárias.
A adolescência é marcada por busca de identidade e mudanças psicossociais intensas. Problemas comportamentais e reações emocionais intensas são comuns. As três ondas podem ser combinadas para:
O treino de habilidades socioemocionais pode integrar:
Técnicas de mindfulness ajudam o adolescente a reconhecer emoções fortes antes de agir. É especialmente útil em casos de raiva, automutilação ou impulsos relacionados a vícios em tecnologia. Exercícios simples de “atenção plena na respiração” ou “na caminhada” podem ser introduzidos com maior facilidade quando se usam recursos como aplicativos de celular ou vídeos curtos.
Em adultos, é comum encontrar comorbidades e quadros complexos (depressão + ansiedade, por exemplo). Nesse caso, a integração das três ondas é valiosa:
Em adultos, a gestão de responsabilidades, carreira e relacionamentos é um tema recorrente. As terapias de terceira onda (ACT, MBCT) proporcionam:
Pesquisas mostram que protocolos de TCC “híbridos” são eficazes para depressão e ansiedade em adultos. Por exemplo, inicia-se com psicoeducação sobre ansiedade (segunda onda), aplica-se exposição gradual (primeira onda) e depois introduz mindfulness e aceitação (terceira onda) para eventuais recaídas ou medos residuais. Essa flexibilidade promove resultados duradouros.
Nos idosos, podem existir declínios cognitivos e limitações físicas que afetam a aplicação de técnicas longas ou complexas. Nesse sentido, a primeira onda é útil para planejar atividades de autocuidado e rotinas de reforço positivo (por exemplo, reforçar passeios curtos ou exercícios leves).
A segunda onda requer linguagem simplificada ao discutir distorções cognitivas, ajustando materiais visuais e exemplos concretos. Muitas vezes, trabalhar crenças sobre o envelhecimento (“não sirvo para mais nada”) é fundamental.
Idosos frequentemente enfrentam perdas (aposentadoria, morte de familiares, redução de habilidades físicas). A terceira onda pode oferecer recursos de:
Aplicar a ACT, por exemplo, auxilia o idoso a desfazer fusões com pensamentos de inutilidade ou culpa, conduzindo-o a ações possíveis e adaptadas à sua realidade atual. Metáforas de “passageiros do ônibus” ou “barco na tempestade” podem ajudar a ilustrar a vida como um processo em constante mudança, onde há ainda espaço para escolhas.
Para aplicar as três ondas da TCC em diferentes faixas etárias, o terapeuta precisa de:
É crucial avaliar (com escalas, entrevistas, autorregistros) os progressos, ajustando técnicas de acordo com as respostas do paciente:
Cada pessoa envelhece de modo singular, cada família tem dinâmicas próprias e cada cultura enxerga a infância e adolescência sob perspectivas específicas. Respeitar valores, crenças e contextos é essencial para aplicar a TCC de forma efetiva e ética, evitando imposições ou modelos universais rígidos.
As três ondas da TCC oferecem um arcabouço amplo de técnicas que podem ser adaptadas a diferentes faixas etárias — da primeira infância à velhice — com abordagens específicas para cada etapa do desenvolvimento e contextos de vida. A primeira onda (behaviorismo) traz estratégias focadas em contingências e modificação de comportamentos; a segunda onda (cognitivismo) promove reestruturação de pensamentos e crenças; e a terceira onda (aceitação e mindfulness) valoriza a flexibilidade psicológica e o contato com valores pessoais.
Para terapeutas e educadores, compreender e integrar essas ondas significa:
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