Terapia de Aceitação e Compromisso e a prevenção do burnout

Matheus Santos • 1 de março de 2025

👉 Masterclass Gratuita e Online

com a PHD Judith Beck

Nesta masterclass exclusiva, você vai:


• Descobrir as mais recentes inovações em TCC
• Entender as tendências que estão moldando o futuro da terapia
• Aprender insights práticos diretamente de uma referência mundial
• Participar de um momento histórico para a TCC no Brasil"

A Síndrome de Burnout é um estado de esgotamento físico e mental relacionado à sobrecarga ou ao estresse excessivo no ambiente de trabalho. Mais do que um simples cansaço, o Burnout costuma provocar exaustão emocional, despersonalização e sensação de ineficácia, trazendo prejuízos significativos para a vida pessoal e profissional do indivíduo. Nesse cenário, a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), uma das principais abordagens da chamada Terapia de Terceira Onda, tem se mostrado cada vez mais relevante para a prevenção e o enfrentamento desse problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.


Este texto irá explorar a fundo os principais conceitos da ACT, a compreensão do Burnout do ponto de vista psicológico, bem como estratégias práticas para prevenir e manejar esse quadro. Além disso, abordaremos a Avaliação Psicológica e a Avaliação Neuropsicológica como ferramentas fundamentais para mapear fatores cognitivos e emocionais que podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome.


Ao final do texto, você encontrará uma chamada para ação para conhecer nossa Formação Permanente, um programa que oferece suporte contínuo para profissionais que desejam aprofundar seus conhecimentos em Neuropsicologia, Psicologia e Terapias de Terceira Onda. Também o convidaremos a explorar artigos específicos no nosso blog da IC&C para se manter atualizado.


Sumário


  1. O que é Burnout?
  2. Como a ACT se encaixa na Terapia de Terceira Onda
  3. Princípios fundamentais da Terapia de Aceitação e Compromisso
  4. Estratégias da ACT para prevenção do Burnout
  5. Avaliação Psicológica e Neuropsicológica no contexto do Burnout
  6. Benefícios e desafios na aplicação da ACT para Burnout
  7. Conclusão
  8. Chamada para ação


O que é Burnout?


A Síndrome de Burnout é caracterizada por um alto nível de estresse relacionado ao trabalho, levando a uma combinação de exaustão física e emocional, distanciamento afetivo e sentimento de ineficiência. Reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, o Burnout não afeta apenas a saúde mental do indivíduo, mas pode impactar diretamente sua produtividade, relações interpessoais e qualidade de vida.


Principais características do Burnout


  • Exaustão emocional: sensação de não ter mais energia para realizar tarefas, seja no contexto profissional ou em outras esferas da vida.
  • Despersonalização (ou cinismo): postura de indiferença ou distanciamento em relação a colegas, clientes ou pacientes, frequentemente expressa por irritabilidade ou falta de empatia.
  • Sensação de ineficácia: sentimento de incompetência ou falta de realização pessoal no trabalho, alimentando baixa autoestima e frustração.


É importante salientar que cada pessoa vivencia o Burnout de forma única. Fatores individuais, como características de personalidade, condições de trabalho e histórico prévio de transtornos mentais, podem influenciar tanto a intensidade quanto a forma como o quadro se manifesta.


Dica de leitura: Para quem deseja entender mais sobre como questões cognitivas e comportamentais se relacionam com o Burnout, recomendamos este artigo do nosso blog que explora de que modo a Avaliação Neuropsicológica pode ajudar a mapear dificuldades que contribuem para a manifestação dessa síndrome.


Como a ACT se encaixa na Terapia de Terceira Onda


A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) faz parte de um grupo de abordagens cognitivo-comportamentais conhecidas como Terapias de Terceira Onda. Enquanto as primeiras ondas da TCC focam principalmente na modificação direta de comportamentos e pensamentos disfuncionais, a terceira onda (ACT, DBT, MBCT, entre outras) enfatiza a relação que a pessoa estabelece com os próprios pensamentos e emoções.


Principais diferenciais da ACT


  1. Aceitação: em vez de lutar constantemente para eliminar sentimentos ou pensamentos desagradáveis, a ACT sugere que o indivíduo desenvolva uma postura mais acolhedora e menos reativa em relação aos conteúdos internos.
  2. Mindfulness: práticas de atenção plena visam ajudar a pessoa a permanecer no momento presente, reconhecendo e aceitando sensações, emoções e cognições sem se perder nelas.
  3. Valores pessoais: ao explorar o que de fato é importante para o indivíduo, a ACT promove ações direcionadas pelos valores fundamentais, o que gera motivação e sentido na vida.
  4. Compromisso: após identificar valores e trabalhar a aceitação, o próximo passo é assumir um compromisso comportamental, direcionando a vida na direção que faz sentido para a pessoa.


A ACT não é uma negação das técnicas cognitivo-comportamentais tradicionais, mas sim uma expansão do repertório de intervenções. Sua aplicação para a prevenção do Burnout se tornou especialmente relevante, pois grande parte do sofrimento associado ao estresse ocupacional está na forma como a pessoa lida com demandas externas e internas, incluindo padrões de perfeccionismo, medo do fracasso e excesso de autocrítica.


Princípios fundamentais da Terapia de Aceitação e Compromisso


Para compreender como a ACT pode auxiliar na prevenção do Burnout, é fundamental conhecer seus principais pilares. A abordagem se baseia em seis processos centrais, que podem ser agrupados em três dimensões:


1. Aceitação e Mindfulness


  • Aceitação (Acceptance): trata-se de acolher os eventos internos (sensações, emoções e pensamentos) em vez de tentar combatê-los ou evitá-los. É um processo ativo, que requer abertura e disposição para sentir.
  • Desfusão cognitiva (Cognitive Defusion): técnica que ensina o indivíduo a se distanciar de seus pensamentos, percebendo-os como eventos mentais, e não como verdades absolutas.


2. Contato com o momento presente e Self como contexto


  • Contato com o momento presente: práticas de mindfulness e outros exercícios de atenção plena auxiliam a pessoa a se conectar com o aqui e agora, reduzindo ruminações sobre o passado ou preocupações excessivas com o futuro.
  • Self como contexto: propõe a ideia de que o indivíduo não é o conteúdo de seus pensamentos, mas aquele que observa esses pensamentos. Isso favorece a flexibilidade para lidar com estados internos difíceis.


3. Valores e Ação comprometida


  • Clareza de valores (Values): identificação e esclarecimento do que é realmente importante e significativo na vida do indivíduo, servindo como guia para suas decisões e comportamentos.
  • Ação comprometida (Committed Action): envolve estabelecer metas e agir de forma coerente com os valores identificados, mesmo diante de obstáculos internos (medos, inseguranças) e externos.


Por que esses processos são relevantes para quem sofre de Burnout?


Porque grande parte do esgotamento crônico advém de conflitos entre o que a pessoa
valoriza e o que ela está fazendo no dia a dia. Muitos profissionais acabam ignorando necessidades pessoais (de descanso, lazer e convívio social) em prol de metas de produtividade que não refletem necessariamente seus valores mais profundos. Nesse contexto, a ACT ajuda a retomar o alinhamento entre escolhas diárias e propósitos de vida.


Estratégias da ACT para prevenção do Burnout


A prevenção do Burnout por meio da ACT envolve a aplicação prática desses princípios. Abaixo, listamos algumas estratégias e exercícios que podem ser utilizados por profissionais de saúde mental e pelos próprios indivíduos interessados em reforçar a saúde emocional no ambiente de trabalho.


1. Exercícios de Aceitação


  • Escala de desconforto: pedir ao paciente para avaliar, em uma escala de 0 a 10, o nível de desconforto sentido ao entrar em contato com situações estressoras. A ideia é treinar a percepção desse desconforto para, gradualmente, aceitar sua presença em vez de evitá-lo.
  • Prática de respiração focada: quando pensamentos de cansaço extremo ou irritação surgirem, a pessoa é orientada a fazer respirações profundas e focar nas sensações físicas, permitindo que os pensamentos e emoções existam sem precisar suprimi-los.


2. Desfusão cognitiva no ambiente de trabalho


  • Rotulando pensamentos: quando surge um pensamento do tipo “sou incompetente” ou “eu não vou dar conta”, a pessoa aprende a rotular esses pensamentos como “estou tendo o pensamento de que sou incompetente”, criando um distanciamento que reduz o impacto emocional.
  • Exercício de “folha no riacho”: imaginar que cada pensamento desagradável é colocado em uma folha que flutua em um riacho, seguindo o fluxo da água. Isso exemplifica a impermanência dos pensamentos, que surgem e vão embora.


3. Contato com o momento presente


  • Mindfulness informal: ao longo do dia, reservar pequenos intervalos para prestar atenção, de forma intencional, ao que está acontecendo — sejam sensações corporais, estímulos do ambiente ou emoções que emergem.
  • Walking mindfulness: caminhar focando nos passos, na respiração e no contato dos pés com o chão. Em ambientes de trabalho maiores, pode ser feito nos corredores ou em espaços abertos.


4. Identificação de valores


  • Exercício de valores centrais: o terapeuta pode aplicar questionários ou promover reflexões que ajudem o indivíduo a elencar áreas importantes (família, carreira, saúde, espiritualidade, lazer, etc.) e a definir o que ele realmente valoriza em cada uma.
  • Construir metas alinhadas: a partir dos valores mapeados, traçar objetivos concretos que possam ser implementados gradualmente. Por exemplo, se a pessoa valoriza “qualidade no relacionamento familiar”, pode estabelecer uma meta de dedicar pelo menos duas noites da semana para atividades familiares.


5. Ação comprometida


  • Planejamento de mudança: definir passos específicos para alinhar as ações diárias aos valores. Isso pode envolver reorganizar horários, delegar tarefas, negociar prazos ou até mesmo buscar um novo emprego em casos extremos.
  • Autoavaliação contínua: criar um diário ou planilha para registrar as ações realizadas em prol dos valores declarados. Essa estratégia ajuda a manter a motivação e a identificar pontos de ajuste.


Avaliação Psicológica e Neuropsicológica no contexto do Burnout


Tanto a Avaliação Psicológica quanto a Avaliação Neuropsicológica são fundamentais para mapear aspectos cognitivos e emocionais que podem intensificar ou atenuar o risco de Burnout. Algumas das razões para isso incluem:


  1. Identificação de padrões de pensamento disfuncional: como perfeccionismo, autocrítica severa e tendência à ruminação, que muitas vezes impulsionam o estresse ocupacional.
  2. Avaliação de funções executivas: incluindo atenção, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva, frequentemente afetadas em quadros de estresse crônico.
  3. Mapeamento de reações emocionais: avaliação de traços de personalidade, níveis de ansiedade e sintomas depressivos que podem interagir com o contexto de trabalho.
  4. Planejamento terapêutico: com base nos resultados, o profissional pode indicar estratégias específicas de ACT ou de outras abordagens cognitivas que sejam mais adequadas a cada perfil.


Sugestão de leitura: se você deseja compreender em detalhes como uma avaliação robusta pode direcionar o tratamento e a prevenção do Burnout, confira este artigo no nosso blog sobre Avaliação Psicológica e Neuropsicológica e entenda por que esses processos são essenciais para um cuidado personalizado.


Benefícios e desafios na aplicação da ACT para Burnout


A ACT oferece uma abordagem inovadora que, ao invés de lutar contra pensamentos estressantes, promove a aceitação desses conteúdos internos ao mesmo tempo em que estimula ações consistentes com valores pessoais. Contudo, como qualquer modelo de intervenção, a aplicação no contexto do Burnout pode apresentar benefícios e desafios.


Benefícios


  • Flexibilidade psicológica: a pessoa aprende a lidar de forma mais saudável com eventos internos (emoções e pensamentos), evitando ruminações e melhorando sua capacidade de resiliência.
  • Alinhamento de valores e ações: a clareza de valores faz com que decisões profissionais e pessoais sejam tomadas com mais propósito, reduzindo o sentimento de vazio ou desconexão.
  • Ferramentas práticas: exercícios de mindfulness, desfusão cognitiva e aceitação podem ser facilmente integrados à rotina de trabalho, fortalecendo o manejo de situações estressoras.
  • Foco no “ser” em vez do “ter que ser”: há uma quebra do modelo perfeccionista que muitas vezes alimenta o Burnout, substituindo-o por uma postura de abertura e compromisso com o que realmente importa.


Desafios


  • Resistência inicial: muitos indivíduos acostumados a controlar ou reprimir emoções podem resistir ao conceito de “aceitação” e “flexibilidade”, considerando-os como fraqueza ou falta de ação.
  • Cultura organizacional: em empresas que reforçam a competitividade extrema e a disponibilidade total, o praticante de ACT pode encontrar barreiras para implementar mudanças relacionadas ao equilíbrio de vida e trabalho.
  • Falta de tempo: a rotina acelerada pode dificultar a prática de mindfulness e exercícios de reflexão de valores. Criar brechas na agenda é fundamental para implementar a ACT de forma efetiva.
  • Necessidade de suporte profissional: em casos mais graves, a autoaplicação de técnicas da ACT pode não ser suficiente, sendo indispensável o acompanhamento com psicólogos ou outros profissionais da saúde mental.


Conclusão


A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), como parte das Terapias de Terceira Onda, oferece uma abordagem eficaz e acolhedora para a prevenção do Burnout. Ao trabalhar a flexibilidade psicológica, a aceitação de pensamentos e emoções e a identificação de valores, a ACT possibilita que os indivíduos desenvolvam maior resiliência frente às pressões do dia a dia. Além disso, a ênfase no momento presente (mindfulness) e o compromisso em agir de forma coerente com aquilo que é significativo ajuda a criar um equilíbrio mais saudável entre vida pessoal e profissional.


A aplicação da ACT no contexto do Burnout se torna ainda mais potente quando combinada com uma Avaliação Psicológica e Avaliação Neuropsicológica cuidadosa, que permite identificar as características individuais, os pontos de vulnerabilidade e as forças de cada paciente. Com essa compreensão, o profissional de saúde mental consegue implementar intervenções mais precisas e personalizadas, aumentando as chances de sucesso e a satisfação do cliente ao longo do processo terapêutico.


Chamada para ação


Se você deseja aprofundar seus conhecimentos e aprimorar suas habilidades em Neuropsicologia, Psicologia e Terapias de Terceira Onda para enfrentar desafios como o Burnout e outros transtornos contemporâneos, conheça agora nossa Formação Permanente. Esse programa oferece conteúdo atualizado, supervisão especializada e oportunidades de práticas que irão enriquecer sua atuação profissional.


Não deixe de visitar também o nosso blog da IC&C para conferir artigos que podem expandir ainda mais o seu conhecimento sobre Avaliação Neuropsicológica, Avaliação Psicológica, Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia de Terceira Onda. Aprenda com especialistas que estão diariamente em contato com os desafios do campo clínico e garanta que sua prática esteja sempre alinhada às melhores evidências científicas.


Invista na sua formação e fortaleça sua atuação na prevenção do Burnout e no cuidado integral à saúde mental. Visite agora mesmo:
Formação Permanente IC&C

Aproveite essa oportunidade para fazer a diferença na vida dos seus pacientes e na sua própria carreira profissional!


👉 Masterclass Gratuita e Online

com a PHD Judith Beck

Nesta masterclass exclusiva, você vai:


• Descobrir as mais recentes inovações em TCC
• Entender as tendências que estão moldando o futuro da terapia
• Aprender insights práticos diretamente de uma referência mundial
• Participar de um momento histórico para a TCC no Brasil"

Inscreva-se

Confira mais posts em nosso blog!

Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
Introdução à Neuropsicologia Forense A neuropsicologia forense aplica princípios e métodos da neuropsicologia no contexto jurídico, auxiliando em perícias civis e criminais. Cresceu rapidamente nas últimas duas décadas, mas ainda carece de padrões unificados de competência PubMed . Profissionais devem entender o papel da avaliação para mensurar déficits cognitivos, sintomas psicopatológicos e potenciais simulações em processos legais ResearchGate . Para fundamentos de avaliação clínica, veja Avaliação Neuropsicológica Remota Sobre ética em psicologia, confira Ética em Psicologia Clínica Aspectos Éticos e Legais Competência Profissional Siga diretrizes da International Neuropsychological Society e da APA Forensic Guidelines APA . Mantenha formação continuada para atuar em perícias. Consentimento e Confidencialidade Explique o uso dos dados ao avaliado e ao tribunal; registre consentimento por escrito. Atenda à LGPD no tratamento de informações sensíveis. Imparcialidade e Objetividade Evite favorecer qualquer parte. Laudos devem basear-se exclusivamente em evidências obtidas PubMed . Declare conflitos de interesse. Seleção de Instrumentos e Bateria de Testes Para perícia forense, escolha testes com boa sensibilidade para detectar simulação (malingering) e avaliação robusta de funções cognitivas:
Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
A realidade virtual (RV) vem se consolidando como ferramenta inovadora em reabilitação cognitiva, ao oferecer ambientes imersivos que simulam tarefas do dia a dia com alto grau de controle experimental Acta Médica Portuguesa . Diferentemente dos métodos tradicionais, a RV permite manipular estímulos sensoriais e sociais, potencializando a neuroplasticidade e o engajamento do paciente arXiv . Para profissionais de neuropsicologia, entender como estruturar protocolos de RV é essencial para integrar essas tecnologias ao portfólio de intervenções, ampliando o acesso e a eficácia terapêutica. Links internos sugeridos: Para fundamentos de reabilitação convencional, veja Reabilitação Cognitiva Tradicional Entenda princípios gerais em nossa Pillar Page de Neuropsicologia Aplicada Mecanismos Neurobiológicos da RV A RV cria um ambiente enriquecido , estimulando a liberação de neurotransmissores como dopamina e BDNF, que favorecem a plasticidade sináptica Repositório ULusofona . Em ambientes imersivos, o cérebro processa estímulos de forma mais parecida com situações reais, aumentando a validade ecológica das tarefas. Além disso, o uso de multimodalidade (áudio, visual, tátil) em RV permite coletar dados comportamentais e fisiológicos em tempo real — por exemplo, via eye tracking e EEG — possibilitando ajustes adaptativos durante a sessão arXiv .  Revisão de Evidências Científicas
Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
A teleneuropsicologia — ou avaliação neuropsicológica remota — cresceu exponencialmente após a pandemia de COVID-19, mostrando-se viável para diversos perfis clínicos . Vantagens principais: Acesso a pacientes em áreas remotas Continuidade de cuidado em situações de isolamento Economia de tempo e custos de deslocamento Desafios: Garantir padronização de ambiente Manter sigilo e segurança de dados Ajustar normas de escores padronizados presenciais para remoto Links internos: Veja também nosso guia completo de Avaliação Neuropsicológica Para práticas presenciais, confira Testes de Atenção Sustentada Fundamentos Éticos e Legais Consentimento Informado Digital Enviar formulário eletrônico detalhando riscos, benefícios e limites da avaliação remota. Registrar aceite via assinatura digital ou gravação de vídeo. Privacidade e LGPD Usar plataformas com criptografia de ponta a ponta. Armazenar gravações e relatórios em servidores seguros, com acesso restrito. Limitações e Contraindicações Pacientes com déficit sensorial grave sem suporte tecnológico local. Situações de risco suicida ou comportamental agudo sem equipe de apoio presencial. Links internos: Entenda mais em nosso post sobre Ética em Psicologia Clínica Seleção de Ferramentas e Plataformas
Por Matheus Santos 26 de abril de 2025
Ao longo dos últimos anos, a Psicologia Clínica e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) passaram por importantes transformações, buscando formas de atender melhor pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Nesse contexto, surge a Terapia Cognitiva Orientada para a Recuperação (CT-R) — uma abordagem inovadora, desenvolvida a partir dos fundamentos da TCC, com foco especial em esperança, ativação motivacional e fortalecimento do senso de identidade . Criada por Aaron T. Beck , Paul Grant e colaboradores, a CT-R foi pensada para ir além do alívio de sintomas, ajudando os pacientes a construírem uma vida significativa, mesmo diante de grandes desafios. Neste artigo, vamos entender o que é a CT-R, seus princípios, como ela funciona na prática clínica e por que representa um grande avanço para a saúde mental contemporânea. O que é a Terapia Cognitiva Orientada para a Recuperação (CT-R)? A CT-R é uma evolução da Terapia Cognitiva tradicional, criada para atender pessoas com esquizofrenia, transtornos psicóticos, transtorno bipolar grave e outros quadros severos . Diferente das abordagens tradicionais focadas exclusivamente na redução de sintomas, a CT-R busca despertar o desejo de viver plenamente , atuando sobre as paixões, interesses e objetivos de vida de cada indivíduo. O foco é empoderar o paciente , e não apenas controlar os sintomas. Seus pilares centrais incluem: Esperança na recuperação ; Fortalecimento da identidade positiva ; Ação baseada em valores e desejos pessoais ; Ativação motivacional constante ; Promoção da autonomia e autodeterminação . 👉 Veja também: As contribuições da neurociência para a evolução das ondas da TCC Princípios fundamentais da CT-R O paciente é mais do que seu transtorno : a CT-R trabalha para recuperar a identidade e os sonhos que muitas vezes ficam obscurecidos pela doença. Foco em pontos fortes, não em déficits : a terapia ativa talentos, interesses e motivações internas. Ativação e prática são essenciais : pequenos passos em direção a objetivos importantes aumentam o senso de agência e autoconfiança. Recuperação é possível : mesmo em condições graves, a transformação é real e possível. Construção do “Eu Ativo” : promover um senso de si baseado em escolhas, valores e participação ativa no mundo. Como funciona a CT-R na prática clínica? A CT-R é estruturada em torno de um processo de ativação personalizada : Identificação de paixões e interesses : o terapeuta explora com o paciente suas fontes internas de motivação (ex: música, culinária, esportes, cuidado com animais). Definição de metas e micro-metas : objetivos claros, factíveis e conectados com valores pessoais. Criação de um plano de ação : estruturado para promover experiências de sucesso. Superação de obstáculos internos : técnicas cognitivo-comportamentais são usadas para lidar com pensamentos desmotivadores, crenças limitantes e medos. Reforço positivo contínuo : cada pequena vitória é celebrada e consolidada. Para quem a CT-R é indicada? Pessoas com esquizofrenia ou transtornos psicóticos crônicos; Indivíduos com transtorno bipolar severo ; Pacientes com histórico de hospitalizações psiquiátricas frequentes ; Casos de desesperança, desmotivação e isolamento extremo ; Pessoas em programas de reabilitação psicossocial ; Cenários emergentes: ansiedade severa, depressão resistente e trauma complexo . Benefícios da CT-R Aumento da motivação e iniciativa pessoal; Redução de comportamentos de isolamento e apatia; Melhora da autoestima e autoconfiança; Redução de hospitalizações psiquiátricas; Reconstrução de laços sociais e familiares; Retorno a atividades significativas (trabalho, estudo, lazer). 👉 Veja também: Como a ACT promove a flexibilidade psicológica Evidências científicas sobre a CT-R Pesquisas iniciais e ensaios clínicos randomizados demonstraram que a CT-R: Melhora o funcionamento global e a qualidade de vida de pessoas com esquizofrenia (Grant et al., 2012); Reduz significativamente a gravidade de sintomas negativos (apatia, anedonia) — considerados de difícil manejo; Promove engajamento duradouro em tratamentos e reabilitação social. Além disso, estudos mostraram que pacientes em programas baseados na CT-R demonstraram maiores taxas de independência e reinserção social em comparação com abordagens tradicionais focadas apenas em sintomas. Exemplo de estudo de caso (fictício) 👨 Pedro, 32 anos Diagnóstico: esquizofrenia com sintomas negativos predominantes (isolamento, falta de motivação); Intervenção: identificação de paixão por jardinagem, definição de micro-metas semanais (regar plantas, participar de oficinas de cultivo); Resultados: Aumento progressivo da participação social; Melhora no humor e na autoestima; Redução de sintomas de isolamento e desesperança. Como se capacitar em CT-R? Cursos internacionais ministrados pela Beck Institute for Cognitive Behavior Therapy (EUA); Manuais e publicações científicas sobre CT-R (em inglês, atualmente); Integração gradual dos princípios da CT-R na prática clínica de TCC tradicional. 👉 Veja também: Treinamento de terapeutas em ACT: um guia para iniciantes Conclusão A Terapia Cognitiva Orientada para a Recuperação (CT-R) representa uma evolução ética, clínica e humana dentro das terapias cognitivo-comportamentais . Ela amplia o foco da intervenção para além da remissão de sintomas, investindo na recuperação da identidade, na ativação da esperança e no florescimento do potencial humano . Com a CT-R, a clínica deixa de perguntar apenas "quais sintomas você apresenta?" e passa a perguntar: "Quais sonhos você ainda quer realizar?" Quer se aprofundar em abordagens inovadoras como a CT-R e transformar sua prática clínica? Participe da Formação Permanente do IC&C e esteja entre os profissionais que fazem a diferença, com ciência, sensibilidade e propósito.
Por Matheus Santos 21 de abril de 2025
Quando uma criança ou adolescente passa a evitar sistematicamente a escola — com choro, queixas físicas, crises de ansiedade ou até isolamento social — estamos diante de um fenômeno que exige atenção clínica: a recusa escolar .  Mais do que um comportamento isolado, a recusa escolar pode ser expressão de sofrimento emocional, dificuldades cognitivas, quadros ansiosos ou conflitos familiares , e sua condução requer sensibilidade e um olhar multidimensional. Nesse contexto, a avaliação neuropsicológica torna-se uma ferramenta poderosa para identificar os fatores envolvidos e direcionar intervenções eficazes e integradas. O que é recusa escolar? A recusa escolar se caracteriza por uma resistência significativa em frequentar ou permanecer na escola , geralmente acompanhada de sofrimento psicológico evidente. Não se trata de rebeldia ou negligência, mas de um sinal clínico multifatorial , que pode incluir: Medo intenso de separação; Ansiedade social; Dificuldades de aprendizagem; Bullying ou trauma escolar; Transtornos do neurodesenvolvimento; Desorganização familiar ou mudanças bruscas na rotina. Quando suspeitar de recusa escolar com base clínica? Queixas somáticas frequentes antes do horário escolar (dor de cabeça, enjoo, dores no corpo); Choro ou crises de pânico diante da ideia de ir à escola; Faltas frequentes ou evasão silenciosa; Alta seletividade em contextos sociais; Ausência de interesse por atividades escolares, apesar de gostar de aprender; Melhora rápida dos sintomas em casa ou aos finais de semana. 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica na ansiedade infantil A importância da avaliação neuropsicológica A avaliação neuropsicológica é essencial em casos de recusa escolar por diversos motivos: Identifica o perfil cognitivo e emocional do indivíduo; Diferencia causas primárias (ansiedade, depressão, TDAH, TEA) de causas secundárias (conflitos escolares, bullying, ambiente disfuncional); Permite compreender os impactos da ausência escolar no desenvolvimento acadêmico; Subsidia o planejamento terapêutico e pedagógico personalizado; Dá voz à criança ou adolescente por meio de observações indiretas e análise contextual. O que avaliar? Funções cognitivas gerais : Atenção, memória, raciocínio lógico, linguagem; Funções executivas (planejamento, inibição, flexibilidade). Aspectos emocionais e afetivos : Sintomas ansiosos, humor deprimido, autoestima; Regulação emocional e tolerância à frustração. Habilidades sociais e adaptativas : Participação em grupos, interação com pares e adultos; Grau de independência nas atividades diárias. Motivação escolar e autorregulação : Relação da criança com tarefas, rotina e responsabilidades; Percepção de autoeficácia. Instrumentos recomendados Cognitivos: WISC-V ou Leiter-3 (quando há barreiras verbais); Torre de Londres, TMT A/B, Stroop Test ; RAVEN – Matrizes Progressivas (complemento não verbal). Comportamentais e emocionais: CBCL (Child Behavior Checklist) ; Inventário de Ansiedade Infantil (MASC) ; Inventário de Depressão Infantil (CDI) ; Escala de Autorregulação Escolar . Sociofamiliares: Entrevistas com pais, professores e equipe pedagógica ; Vineland Adaptive Behavior Scales (para crianças com suspeita de TEA ou DI); Questionários sobre clima escolar e relacionamento com pares . 👉 Leia também: Como medir funções executivas na prática clínica Estudo de caso (fictício) 👧 Mariana, 10 anos Queixa: recusa para ir à escola há 3 meses; episódios de choro e dores de barriga diárias. Avaliação: WISC-V, CBCL, entrevistas com escola e pais. Achados: Inteligência dentro da média; Elevados índices de ansiedade de separação e evitação social; Traços de perfeccionismo e autocrítica intensa. Hipótese clínica : recusa escolar por quadro ansioso internalizante, com componentes de ansiedade social e medo de desempenho. Encaminhamentos : psicoterapia cognitivo-comportamental, plano de retorno escolar gradual, acolhimento familiar e escolar com estratégias colaborativas. Comorbidades comuns à recusa escolar Transtorno de Ansiedade de Separação Ansiedade Social Fobia escolar Depressão infantil Transtorno de Aprendizagem TDAH Transtornos de comportamento TEA Boas práticas na devolutiva Acolher o sofrimento emocional com escuta ativa; Evitar rótulos como “preguiça”, “drama” ou “frescura”; Validar as emoções da criança e da família; Compartilhar os achados com clareza e empatia; Propor um plano de intervenção escolar colaborativo , com passos pequenos e realistas; Recomendar psicoterapia baseada em evidências , quando necessário. Conclusão A recusa escolar é um fenômeno complexo que exige um olhar clínico, ético e contextualizado. A avaliação neuropsicológica amplia a escuta, organiza o entendimento das causas e aponta caminhos viáveis para reconstruir o vínculo entre o aluno e o ambiente escolar. Mais do que um laudo, a neuropsicologia oferece um mapa de possibilidades — para que cada criança possa voltar a aprender com segurança, pertencimento e autonomia. Quer aprender a avaliar e intervir em casos complexos como recusa escolar, TDAH, TEA e ansiedade? Participe da Formação Permanente do IC&C e domine os instrumentos, critérios clínicos e estratégias práticas para atuar com excelência e sensibilidade.
Por Matheus Santos 21 de abril de 2025
O mutismo seletivo é um transtorno de ansiedade caracterizado pela incapacidade consistente de falar em determinados contextos sociais , apesar da capacidade preservada de comunicação verbal em outras situações. Por exemplo, a criança pode conversar normalmente com familiares em casa, mas permanecer completamente em silêncio na escola ou diante de pessoas menos familiares. Embora raro, o mutismo seletivo é frequentemente mal compreendido ou confundido com timidez extrema, autismo, recusa escolar ou até desinteresse , atrasando intervenções adequadas. A avaliação neuropsicológica, quando bem conduzida, é uma ferramenta poderosa para entender esse quadro , identificar comorbidades e orientar estratégias sensíveis e eficazes. O que é o mutismo seletivo Segundo o DSM-5, os critérios diagnósticos para mutismo seletivo incluem: Incapacidade consistente de falar em situações sociais específicas nas quais há expectativa de fala (por exemplo, na escola), apesar de falar em outras situações; Interferência com o desempenho educacional ou ocupacional ou com a comunicação social; Duração de pelo menos um mês (não limitado ao primeiro mês de escola); A falha em falar não se deve à falta de conhecimento ou conforto com a linguagem exigida na situação; A dificuldade não é melhor explicada por um transtorno da comunicação (por exemplo, transtorno de fluência) ou por outros transtornos do neurodesenvolvimento, esquizofrenia ou transtorno psicótico. Quando suspeitar de mutismo seletivo? A criança fala normalmente com familiares , mas não fala em sala de aula ou com colegas; Evita interações sociais que exijam fala (como apresentações, leitura em voz alta, responder chamadas); Permanece em silêncio por meses ou anos em contextos escolares, mesmo com bom desempenho acadêmico; Apresenta respostas ansiosas intensas diante da expectativa de comunicação verbal; Usa estratégias alternativas de comunicação (olhar, gestos, escrita) para evitar falar. 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica em crianças com TDAH  Diferença entre mutismo seletivo, timidez, ansiedade social e TEA
Por Matheus Santos 20 de abril de 2025
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que impacta a comunicação, a interação social e os padrões de comportamento. Ao contrário do que se acreditava no passado, o autismo não é uma condição única ou homogênea — ele se manifesta de formas muito diversas, exigindo um olhar sensível, técnico e individualizado. A avaliação neuropsicológica no TEA é uma das ferramentas mais potentes para entender o funcionamento global da pessoa autista , identificar comorbidades e orientar estratégias terapêuticas e educacionais baseadas em evidências. Neste artigo, você vai entender: O que caracteriza o TEA segundo os manuais diagnósticos; Como a avaliação neuropsicológica contribui para o diagnóstico e intervenção; Quais funções cognitivas, sociais e adaptativas devem ser avaliadas; Quais testes e estratégias são recomendadas; Como comunicar os resultados de forma ética e acolhedora. O que é o Transtorno do Espectro Autista? De acordo com o DSM-5 , o TEA é caracterizado por: Déficits persistentes na comunicação e na interação social em múltiplos contextos; Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades ; Os sintomas devem estar presentes desde o início do desenvolvimento ; Devem causar prejuízo clínico significativo; E não serem melhor explicados por deficiência intelectual isolada ou atraso global do desenvolvimento. O CID-11 adota uma estrutura similar, mas enfatiza a variabilidade de apresentação clínica , especialmente no que diz respeito ao uso da linguagem e à presença de deficiência intelectual associada. Por que a avaliação neuropsicológica é essencial no TEA? A avaliação neuropsicológica no TEA não é feita para “confirmar” o diagnóstico , mas sim para: Compreender o perfil funcional e cognitivo da pessoa autista ; Identificar pontos fortes e áreas de suporte ; Detectar comorbidades comuns , como TDAH, transtornos de aprendizagem, ansiedade ou depressão; Subsidiar planos terapêuticos, educacionais e intervenções específicas ; Apoiar o processo de adaptação curricular, inclusão escolar e orientações familiares . 👉 Veja também: Como interpretar testes neuropsicológicos de forma contextualizada Quais habilidades devem ser avaliadas? Funções cognitivas gerais : Inteligência verbal e não verbal Memória de trabalho Raciocínio lógico Atenção e funções executivas Habilidades adaptativas : Comunicação funcional Independência nas atividades diárias Participação social Aspectos socioemocionais : Habilidades de reconhecimento e regulação emocional Compreensão de intenções e metáforas Rigidez comportamental e interesses específicos Pragmática da linguagem e interação social : Uso social da linguagem Capacidade de manter conversas Interpretação de gestos, expressões faciais e pistas sociais Testes e instrumentos recomendados Inteligência e raciocínio: WISC-V ou WAIS-IV Leiter-3 (quando há dificuldades de linguagem) RAVEN - Matrizes Progressivas Coloridas Funções executivas e atenção: Torre de Londres Trail Making Test (TMT A/B) Stroop Test Span de dígitos e Corsi Linguagem e pragmática: ABFW - Teste de linguagem infantil Provas de linguagem funcional e narrativa Avaliação de inferência social e metáforas Habilidades adaptativas e sociais: Vineland Adaptive Behavior Scales Escala de Responsividade Social (SRS) CBCL / TRF / BASC-3 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica na deficiência intelectual Estudo de caso (fictício) 👦 Lucas, 7 anos Queixa: dificuldade em interações sociais e comportamento repetitivo. Avaliação: WISC-V, Torre de Londres, SRS, Vineland, entrevistas com pais e escola. Resultados: QI verbal e não verbal dentro da média; Dificuldades marcantes em flexibilidade cognitiva e atenção conjunta; Perfil adaptativo compatível com TEA leve, sem deficiência intelectual. Encaminhamentos : intervenção comportamental, treino de habilidades sociais, apoio escolar com mediação pedagógica e suporte psicológico para a família. Comorbidades frequentes no TEA TDAH : impulsividade, desatenção e hiperatividade; Ansiedade social e fobias específicas ; Transtornos de aprendizagem (especialmente dislexia e discalculia); Transtornos do sono e da alimentação ; Depressão (mais comum na adolescência e vida adulta) . A avaliação neuropsicológica ajuda a diferenciar sintomas que fazem parte do espectro daqueles que representam comorbidades importantes a serem tratadas separadamente. TEA x TDAH x TANV x TDC: principais diferenças
Por Matheus Santos 18 de abril de 2025
Você já ouviu alguém dizer que uma criança é “desastrada”, “sem jeito” ou que “não tem coordenação”? Em muitos casos, essas expressões populares escondem uma condição real e pouco reconhecida: o Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) , também chamado de dispraxia do desenvolvimento . Apesar de afetar cerca de 5% a 6% das crianças em idade escolar, o TDC ainda é subdiagnosticado , muitas vezes confundido com TDAH, dificuldades pedagógicas ou questões comportamentais. Por isso, a avaliação neuropsicológica é fundamental para identificar o transtorno, compreender seu impacto funcional e orientar intervenções específicas . Neste artigo, você vai entender: O que é o TDC e como ele se manifesta; Quais são os critérios diagnósticos e os sinais de alerta; O papel da avaliação neuropsicológica na identificação do transtorno; Quais testes são mais indicados; E como apoiar essas crianças no contexto clínico e escolar. O que é o Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação? Segundo o DSM-5, o TDC é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por: Déficit significativo na coordenação motora , incompatível com a idade cronológica; Comprometimento funcional : o déficit interfere em atividades acadêmicas, sociais ou de lazer; Os sintomas iniciam no período do desenvolvimento ; As dificuldades não são explicadas apenas por deficiência intelectual, paralisia cerebral ou condições neurológicas adquiridas . Ou seja, trata-se de um transtorno específico da coordenação que impacta diretamente a funcionalidade da criança no cotidiano . Sinais comuns do TDC Dificuldade em atividades como correr, pular, arremessar ou pegar bolas; Desempenho inferior em esportes e brincadeiras motoras; Escrita lenta e com traçado irregular (frequentemente associado à disgrafia); Problemas para manusear objetos, abrir embalagens ou usar talheres; Atraso na aquisição de marcos motores (como andar, subir escadas, amarrar cadarços); Evitação de tarefas motoras, isolamento social ou baixa autoestima. 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica na dislexia Quando suspeitar de TDC? A criança não acompanha os colegas nas aulas de educação física ; Tem caligrafia muito prejudicada, mesmo com apoio; Leva mais tempo do que o esperado para realizar tarefas simples; Apresenta frustração constante ao tentar atividades motoras; Evita esportes, jogos ou atividades com coordenação; Não possui outros transtornos neurológicos que justifiquem os sintomas. O papel da avaliação neuropsicológica no TDC A avaliação neuropsicológica é essencial para: Confirmar a presença de déficits motores significativos ; Avaliar funções cognitivas associadas , como atenção, funções executivas, planejamento motor e memória de trabalho; Diferenciar o TDC de outros quadros do neurodesenvolvimento ; Medir o impacto funcional das dificuldades motoras; Apoiar o planejamento de intervenções escolares e clínicas. A neuropsicologia oferece um olhar integrado entre cognição, motricidade e comportamento , ajudando a compreender o funcionamento global da criança. 👉 Veja também: Como medir funções executivas na prática clínica Habilidades a serem avaliadas Coordenação motora fina e global Praxias visuais, construtivas e motoras Planejamento motor e organização sequencial Funções visuoespaciais Velocidade de processamento Funções executivas (inibição, flexibilidade, organização) Comportamento adaptativo e autoestima Instrumentos frequentemente utilizados Coordenação e praxias: Teste de Figura Complexa de Rey NEUPSILIN-INF (praxias e habilidades visuoconstrutivas) Bender Gestalt Test Avaliações projetivas ou tarefas práticas de manipulação Funções cognitivas associadas: WISC-V (subtestes de velocidade de processamento e raciocínio perceptual) Torre de Londres, TMT A/B, Stroop Test Escalas comportamentais (BASC-3, CBCL, Vineland) 👉 Leia também: Figura Complexa de Rey e funções visuoespaciais Estudo de caso (fictício) 👦 Pedro, 9 anos Queixa: dificuldade nas aulas de educação física, letras ilegíveis e isolamento social. Avaliação: WISC-V, NEUPSILIN-INF, Figura de Rey, CBCL, entrevista com escola. Resultados: Inteligência geral na média; Déficits em praxias, visuoconstrução e velocidade motora; Baixa autoestima e evitação de atividades motoras. Hipótese diagnóstica : Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC). Encaminhamentos : psicomotricidade, terapia ocupacional, adaptação escolar e acompanhamento psicológico para autoestima. TDC x TDAH x Disgrafia: qual a diferença? 
Por Matheus Santos 17 de abril de 2025
O Transtorno de Aprendizagem Não Verbal (TANV) é uma condição ainda pouco conhecida e, por isso mesmo, frequentemente subdiagnosticada. Crianças e adolescentes com TANV podem ter um bom desempenho verbal, mas enfrentam dificuldades marcantes em habilidades visuoespaciais, coordenação motora, compreensão de pistas sociais e resolução de problemas não verbais. Essas características tornam o TANV uma condição complexa de identificar, especialmente porque seus sintomas muitas vezes se confundem com TDAH, TEA, dislexia ou mesmo ansiedade escolar . Nesse cenário, a avaliação neuropsicológica é uma ferramenta essencial para o diagnóstico diferencial e o direcionamento de intervenções eficazes . Neste artigo, você vai entender: O que é o TANV e quais são seus critérios diagnósticos; Como a avaliação neuropsicológica contribui para sua identificação; Quais testes são mais indicados; Como diferenciar o TANV de outras condições; E os principais cuidados na devolutiva e no plano de suporte. O que é o Transtorno de Aprendizagem Não Verbal (TANV)? O TANV é um padrão neuropsicológico caracterizado por uma discrepância significativa entre o desempenho verbal e não verbal . A inteligência verbal costuma ser média ou acima da média, enquanto as funções visuoespaciais, motoras, sociais e pragmáticas estão comprometidas. Embora não conste como categoria formal no DSM-5, o TANV é amplamente reconhecido na literatura neuropsicológica, especialmente por pesquisadores como Byron Rourke e Joseph Palombo. Principais características clínicas do TANV Excelente memória verbal, vocabulário e habilidades de leitura inicial; Dificuldades com organização visuoespacial e construção de figuras; Desempenho fraco em matemática (especialmente raciocínio não verbal); Problemas de coordenação motora e escrita manual; Dificuldade em interpretar linguagem corporal, metáforas e piadas; Isolamento social e dificuldades em interações sociais espontâneas; Rigidez cognitiva e resistência à mudança de rotinas. 👉 Veja também: Avaliação neuropsicológica na dislexia Quando suspeitar de TANV? A criança tem fala precoce, vocabulário sofisticado , mas evita brincadeiras com construção, quebra-cabeças ou esportes; Dificuldade para entender instruções visuais, mapas ou sequências não verbais ; Problemas frequentes em atividades motoras finas e grossas (como caligrafia, amarrar sapatos, correr); Dificuldade em interações sociais, mesmo com linguagem verbal preservada; Desempenho escolar desproporcional entre leitura e matemática . O papel da avaliação neuropsicológica no TANV A avaliação neuropsicológica é essencial para: Identificar o padrão de discrepância entre habilidades verbais e não verbais ; Avaliar o impacto nas funções executivas, habilidades motoras, sociais e acadêmicas; Diferenciar TANV de outras condições com sintomas semelhantes; Construir um plano de intervenção interdisciplinar , com foco no desenvolvimento das áreas mais comprometidas; Apoiar famílias e escolas com orientações práticas e inclusivas . Quais habilidades devem ser avaliadas? Inteligência verbal e não verbal Habilidades visuoespaciais e visuoconstrutivas Coordenação motora fina e global Funções executivas (planejamento, flexibilidade, inibição) Habilidades sociais e pragmáticas Desempenho acadêmico em matemática e escrita 👉 Leia também: Como medir funções executivas na prática clínica Instrumentos frequentemente utilizados Inteligência e raciocínio: WISC-V ou WAIS-IV (análise dos índices Verbal x Visuoespacial) RAVEN – Matrizes Progressivas (complemento não verbal) SON-R (em casos com barreiras de linguagem) Coordenação motora e visuoconstrução: Teste de Figura Complexa de Rey Bateria NEUPSILIN-INF Bender Visual-Motor Gestalt Test Funções executivas e sociais: Stroop Test, Torre de Londres, TMT A/B Entrevistas com professores e pais Escalas de avaliação comportamental (como BASC-3 ou CBCL) 👉 Veja também: Figura Complexa de Rey na avaliação visuoespacial Estudo de caso (fictício) 👦 Miguel, 11 anos Queixa: dificuldades em matemática, desorganização, comportamento social imaturo. Avaliação: WISC-V, Rey, TDE, CBCL, entrevista com pais e escola. Resultados: QI verbal elevado (125); QI não verbal médio (88); Baixo desempenho em tarefas visuoespaciais e motoras; Dificuldades em situações sociais ambíguas. Hipótese sugerida : Padrão compatível com Transtorno de Aprendizagem Não Verbal (TANV), com necessidade de intervenção interdisciplinar. Encaminhamentos : adaptação curricular, psicomotricidade, treino de habilidades sociais, acompanhamento psicopedagógico. Diferença entre TANV, TEA e TDAH
Por Matheus Santos 17 de abril de 2025
As altas habilidades/superdotação (AH/SD) ainda são pouco compreendidas na prática clínica e educacional, o que leva muitas vezes à invisibilidade desses indivíduos. Em vez de reconhecimento, não é raro que crianças superdotadas recebam diagnósticos equivocados — como TDAH, ansiedade ou até transtornos de conduta.  A avaliação neuropsicológica é uma ferramenta essencial para identificar o potencial cognitivo acima da média , compreender as nuances emocionais e comportamentais envolvidas e oferecer um plano de intervenção alinhado às necessidades singulares desse público. Neste artigo, você entenderá: O que caracteriza uma pessoa com altas habilidades/superdotação; Como a neuropsicologia contribui para a identificação e suporte clínico e educacional; Quais são os testes mais indicados; Os principais desafios emocionais e sociais; E as boas práticas na devolutiva e na articulação com a escola e a família. O que são altas habilidades/superdotação? De acordo com a legislação brasileira (Lei nº 13.234/2015 e Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial), são considerados alunos com AH/SD aqueles que demonstram: Potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas : Capacidade intelectual geral Habilidades acadêmicas específicas Pensamento criativo ou produtivo Capacidade de liderança Talento especial para artes Habilidades psicomotoras Esse potencial deve ser evidenciado por alta criatividade, envolvimento na aprendizagem e desempenho acima da média em tarefas da área de interesse, o que pode ou não ser acompanhado por rendimento escolar elevado. 👉 Veja também: Diferenças entre TCC tradicional e terapias de terceira onda Por que avaliar? Muitas crianças superdotadas passam despercebidas por apresentarem: Tédio e desmotivação em sala de aula; Condutas desafiadoras por se sentirem incompreendidas; Ansiedade, perfeccionismo ou dificuldade em lidar com frustração; Más notas por não se adaptarem ao ritmo da turma. A avaliação neuropsicológica permite compreender o verdadeiro perfil cognitivo e emocional , ajudando pais, professores e terapeutas a ajustarem suas expectativas e estratégias de suporte. Quando suspeitar de altas habilidades/superdotação? Aquisição precoce de leitura, escrita ou cálculos; Curiosidade intensa e vocabulário avançado; Pensamento abstrato precoce e interesse por temas complexos; Memória excepcional; Intensa sensibilidade emocional ou senso de justiça; Interesse obsessivo e aprofundado em determinados temas. 👉 Leia também: Avaliação neuropsicológica na dislexia: como diferenciar dificuldades de aprendizagem e transtornos específicos Papel da avaliação neuropsicológica A avaliação neuropsicológica nas AH/SD permite: Identificar QI elevado e/ou habilidades cognitivas acima da média; Avaliar se há comorbidades (TDAH, ansiedade, TEA); Analisar funções executivas, criatividade, foco, regulação emocional; Diferenciar “alto desempenho acadêmico” de “potencial cognitivo elevado”; Construir estratégias educacionais e clínicas personalizadas. Importante: QI alto isoladamente não é suficiente para o diagnóstico de superdotação , sendo necessária uma avaliação multidimensional, com base também em observações e relatos escolares e familiares. Habilidades que devem ser avaliadas Inteligência geral e raciocínio lógico Memória de curto e longo prazo Atenção e controle inibitório Linguagem verbal e vocabulário Flexibilidade cognitiva e criatividade Aspectos afetivos e sociais Instrumentos frequentemente utilizados Inteligência geral: WISC-V (crianças) ou WAIS-IV (adolescentes/adultos) RAVEN – Matrizes Progressivas (não verbal) SON-R ou Leiter-3 (em casos com barreiras linguísticas) Funções cognitivas específicas: Torre de Londres, Stroop, TMT A/B, Fluência Verbal RAVLT e Span de Dígitos TDE – Teste de Desempenho Escolar Testes projetivos para avaliação emocional (quando pertinente) 👉 Veja também: Testes neuropsicológicos comerciais: WAIS, WCST e outros Estudo de caso (fictício) 👧 Clara, 10 anos Queixa: desmotivação escolar, comportamentos desafiadores e inquietação constante. Avaliação: WISC-V, Stroop, TMT, TDE, entrevista com escola e pais. Achados: QI total de 135, com destaque para memória e raciocínio abstrato; Baixa tolerância à frustração e tendência à impaciência com colegas; Desempenho escolar regular, por tédio e falta de desafio. Hipótese sugerida : Altas habilidades cognitivas + necessidade de enriquecimento curricular. Encaminhamentos : flexibilização pedagógica, projeto de tutoria, suporte emocional e reavaliação anual. Aspectos emocionais e sociais a considerar Altas habilidades não protegem contra sofrimento emocional ; Superdotados podem ter dificuldades com colegas da mesma idade; Perfis ansiosos e perfeccionistas são comuns; A pressão por desempenho pode gerar angústia ou isolamento; Apoio psicoterapêutico pode ser fundamental para o equilíbrio emocional e a autoestima. 👉 Veja também: O papel da flexibilidade psicológica nas terapias da terceira onda Cuidados na devolutiva Evite rótulos como “gênio” ou “criança prodígio”; Explique que a superdotação exige apoio, e não apenas reconhecimento ; Oriente a escola sobre estratégias de aceleração, enriquecimento e compactação curricular ; Estimule o desenvolvimento socioemocional como parte do plano de apoio; Valorize o potencial, mas com responsabilidade. Conclusão A avaliação neuropsicológica nas altas habilidades/superdotação é uma oportunidade de promover inclusão, reconhecimento e desenvolvimento pleno . Ao identificar não apenas o que o indivíduo pode fazer, mas como ele aprende, sente e se relaciona, o processo se torna uma poderosa ferramenta para potencializar talentos e acolher vulnerabilidades. Em tempos de educação personalizada, a neuropsicologia tem papel fundamental para que nenhum potencial passe despercebido — nem sofra por ser mal compreendido. Quer aprofundar sua atuação na avaliação de casos complexos como superdotação, TDAH, TEA e transtornos de aprendizagem? Participe da Formação Permanente do IC&C e domine os principais instrumentos, técnicas e estratégias clínicas para atuar com ética, profundidade e segurança em sua prática.
Mais Posts